Todas as frases de Miguel Esteves Cardoso
“O tempo que perdemos a fotografar ou a filmar onde vamos e o que fazemos: mais do que interrupções, são subtracções. O tempo perdido em apontamentos e fotografias é um estúpido virar-de-costas - um roubo - à riqueza daquela ocasião, sabida, à partida, finita.”
“Vê-se melhor quando não se vai para ver nada, quando os olhos procuram tudo o que possam achar. E encontram tudo.”
“O tempo o amor começam enquanto continuam. É quando o amor continua que se está mais apaixonado.”
“Hoje, ser-se egoísta é quase uma coisa boa - chega a ser elogiado como condição necessária - enquanto se vai tornando impossível ou, de qualquer modo, indecorosa, a maior das qualidades humanas, que é o altruísmo.”
“No amor, somos todos meninos. Meninos, pequenos, pequeninos. Sentimo-nos coisas poucas perante a glória descarada de quem amamos. Quem ama não passa de um recém-nascido, que recém-nasce todos os dias.”
“Façam o que fizerem na vida, para ganhar algum, os intelectuais verdadeiros são aqueles que preferem ler a escrever; ler a fazer; quase (quando não têm sorte), ler a viver. Mesmo que tenham de dizer o contrário. Ler vem sempre primeiro. Escrever vem depois.”
“Muito depende de sermos capazes de estar no momento em que estamos, sem pensar no que fizemos para ali estar ou nos preocuparmos para onde vamos a seguir. [...] Há um estado activo de recepção, de estarmos prontos para o que vier, sem termos nada marcado ou expectativa nenhuma.”
“O amor é uma coisa muito estranha, que todos os dias nos acorda, depois de sonhos inequívocos, a lembrar-nos que estamos condenados à pessoa que amamos. E ficamos, por estarmos apaixonados, convencidos. Que o nosso inteiro coração, por estar ocupado por ela, está entregue a expandir-se ilimitadamente por causa disso, por uma só pessoa.”
“A caligrafia - que é escrever bem, com beleza e legibilidade - continua a ser, por muito fútil que possa parecer, um triunfo gráfico da nossa alma.”
“É um defeito particularmente português querermos distinguir-nos do empreendimento onde trabalhamos e de que fazemos parte. Preferimos falar, distantemente, do «lugar» ou «sítio» onde trabalhamos, como se fosse apenas uma questão utópica de localização.”
“Os livros são como amizades que se fazem. É um erro sentimental dizer que são amigos. Só as pessoas e os animais podem ser amigas - e mesmo os animais têm pouco voto na matéria, coitados. Se calhar, os livros nem amizades são. São mais conhecimentos que se travam e que, nalguns poucos casos, se aceleram, para se tornarem amizades.”
“Tanto a ciência como a religião estão muito atrasadas e são, desproporcionalmente, arrogantes e ambiciosas de mais, querendo ou sonhando explicar tudo o que é, sempre foi e manter-se-á incompreensível. Para o nosso bem ou mal: não somos capazes de fazer ideia.”
“Quem não gosta de polémicas ou é mentiroso ou um monotomaníaco de primeira.”
“O frio torna as paisagens mais nítidas. O calor esborrata-as.”
“Viver torna-se uma tão estúpida obsessão que dormir bem - sempre mais do que se precisaria, esticando a ronha até ao limite do olho fechado - é cada vez mais considerado como um abraço acamado que se dá à Morte. Que disparate: dormir é viver bem.”
“O ser humano, por natureza, prefere o passado ao futuro ou vice-versa, sempre à custa do presente. Tanto a ideia que as coisas vão melhorar (não podem piorar mais) como a ideia que não vão piorar (é triste ficar na mesma).”
“Os portugueses são pouco dados a elogios - temem que afecte negativamente a qualidade e positivamente o preço.”
“O futuro é contra nós. Temos de roubar o que pudermos, enquanto podemos. A música e a poesia são consolações da vida. Mas valem mais as poucas coisas que fizemos ou vivemos que já ninguém nos tira.”
“Favorecemos sempre os próximos. Mas sempre mais os escolhidos do que os destinados. Ensinaram-me a minha mãe e o meu pai que tinha a liberdade de gostar de quem gostasse, fossem ou não de família.”
“As cunhas são contraprodutivas - desfavorecem quem se procura ajudar.”
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